segunda-feira, 20 de agosto de 2012



Eu não quero mais brincar de adivinhar o que você sente
Eu não quero mais sonhar em cruzar com você por aí, de repente
Já não vejo mais graça em decifrar monossílabos avulsos
Lançados em doses homeopáticas nos delírios da internet
No oco dos bate-papos, nas trovas sem calafrios

Eu quero salitre, ferrugem, fuligem
Eu quero as pedras rolando no rio
Eu quero o musgo brotando da pedra
Ai, si si si


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Adeus, Senhora dos Sonhos



O que está para adiante não é prioridade.
O hoje é a unica coisa que me importa.
A eternidade é agora.

Perdão, amor!
 Mas, é que eu preciso reciclar meus sonhos e você tem sido o sonho mais difícil de mandar ir embora.
Quando digo sonho, é sonho mesmo. Sonho para sonhar, não para concretizar. Sonho em seu gesto nobre de silêncio e inspiração, sem trocas, sem troco, sem nenhuma espécie de trâmite com a realidade.

É que eu sou desse tipo de cabeça que tem um lado que ainda permanece criança: Que sonha a acredita por compulsão. E se assim  não fosse, que tipo de poeta eu seria?

Sonhar é do meu organismo, da minha fisiologia, do meu ventre... os sonhos são os pulmões da minha alma, os gametas da minha arte...

Só que é tempo de se renovar e eu quero que você saia de mim, enfim, para que eu possa oxigenar meu peito com ares novos. Não quero que você seja como aquela massa de ar residual insistente, que fica ali no fundo dos pulmões e, que se não renovada, acaba por intoxicar os alvéolos, o sangue, as vísceras, os sonhos...

Estou respirando fundo, expirando tudo...

Já deu tempo  de você Ser o suficiente. Agora a porta está aberta. E eu, que achava o tempo inteiro que era para você entrar, me dei conta que a porta está aberta mesmo é para você sair. Por isso que eu precisava quebrar o silêncio e o fiz, praticamente, por acidente, mas fiz. Então, vou transformar o barulho em coisa útil.
E digo em bom som:

Vai, criatura!
Viva!
Fora de mim seu lar vai ser muito mais seu e eu vou poder viver tantas outras magias, que não essas dos teus feitiços.
É hora de eu me despir sem preocupações com platéias; é tempo de eu ser música, de eu ser fera, de eu ser minha... de eu Ser só minha.

Vai, porque eu não preciso mais que você me inspire ou faça parte dos meus delírios. Já te inspirei como um gás de lisergia; já fiquei inspirada demais. Agora, estou respirando fundo, expirando tudo. Quero respirar o Silêncio para me inspirar do Nada Absoluto. Quero liquidar as personificações e dar ao Amor o nome próprio de "Eu", com toda propriedade.

Vai, que eu já aprendi o suficiente.
Vai, e não precisa se fingir cega, surda ou muda. Mas, se isso é mais confortável, faça como preferir.
Vai, sem fazer de conta que você não sabe dizer Não.
 Pois, o Não é a cor natural do Sim que você pinta; o seu Sim em Preto-e-Branco de um Não-Tão-Colorido.

Eu sei ouvir e ver tudo, embora não tenha conseguido falar nada.
Talvez, porque falar seja a coisa mais prescindível.

Vai!
Porque eu estou livre.
Vai!
 É assim que eu quero que você permaneça: Voando!
Só que agora, fora dos meus pulmões...

Tudo o que eu achava que era você dentro de mim,  era Eu o tempo todo.

Obrigada por me refletir!
Agora você já pode ir.
A porta de saída é a serventia da casa. Adeus, Senhora dos Sonhos!