sábado, 7 de dezembro de 2013

Serei mar; Sereiar




Foi confiar ao mar
a sua dor do dia
E o mar lhe levou
Pra navegar em si

Aquele que era peixe
Preso numa poça
Em meio as pedras
Viu a maré chegar
O mundo se encher
A poça virar mar

Virá amar
Amaralina,
sua sina
Mina onda,
 Ondina

Virou navegador
Doridevaneou
Se atirou aos cantos
Do encanto
Acalanto da Vida:

Sereia
Sereiar

Fui entregar ao mar
O meu amor do dia
E o mar me morou
Mirou, molhou
Fez festa a flutuar

Me fez querer nascer
Nascente,
 berço cristalino
Diamantinos sonhos
Sonorizam meu destino

Imploro a Iemanjá
Me empresta pra Oxum
Que Iansã se encarrega
Me carrega
no lombo dos ventos

Sereia
serei ar
um dia o dia volta
e volto a ser do mar

O meu destino é caminhar
O meu caminho é navegar







domingo, 18 de agosto de 2013

Vivo agarrada na barra da saia da Fé
E sigo acreditando que o Amor  mora comigo
Vive lá no Invisível
Ele pira, paira
 chora, ri

O amor é um exílio
uma beleza, aberração
me põe em riscos de contra-mão
convida, faz honras da casa
 banhos de folha

O Amor parece até que  me conhece,
se espalha por toda parte.
O Amor inventa é coisa,
é todo cheio de arte.

O Amor adora uma cena.
Se finge todo novela,
enquanto me faz cinema.

O Amor não passa de um dilema,
de uma fome, um exagero, um palpite.
É o que sai das fartas tetas da Nefertite

O Amor é o caos da calma v
adiando mundos
e no fundo não prende, não deixa.

O Amor é conversa fiada,
ele fala comigo em segredo,
sussurros em braile.
Me olha nos lábios,
mas sequer me beija.

Será que o Amor é dado a  sonhar?
Será que o Amor sabe o quanto eu queria seus beijos severos?
 ... e como eu sonhava em só ser o seu Vênus!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Era Agora





Já saímos da era cartesiana. Já podemos ser livres desse excesso de setas e exatidões.
Podemos dar um primeiro passo e desacreditar dos patrões, dos bem polidos e (des)cobertos de razão.

Se quisermos que a Era Agora seja Luz, precisamos deixar de pensar no quanto.
Somos permitidos a pensar em Quantum.
Compreender o pensamento como descargas de energias  luminosas, emissão de partícula-onda.

Até a soberana Ciência, inventora das grandes máquinas  e seu dito Tempo Real. Até ela deu o seu aval.
Enquanto isso as religiões estão ensandecidas, ensaiando seus apocalipses, bradando como feras os nomes das suas bestas. Tudo isso sem nunca olhar para o espelho.

- "Amai ao próximo como a ti mesmo?"

- "No Way, Jesus!"

Como ? Se o próximo é preto...
Como? Se o próximo é fêmea...
Como? Se o próximo é bicha...
Como? Se o próximo é louco...
Como? Se a televisão ensina a só amar  tudo aquilo que for lindo-rede-globo.
A Rede é outra, queridos! Alertem todos!
Como? Se esse ou aquele faz isso ou aquilo, assim, diferente...
Como? Se sabendo domar maiorias, ao mínimo esforço, se enchem os bolsos...

O outro tem outro nome, outra pele, outra cor, cabelos de outra textura.
Um espantalho sempre se espelha no outro e, ao não se aceitar, se espanta no outro. Se espanta na igualdade, se espanta na diferença. E como, a não poder sair do lugar, porque suas pernas não movem e seu destino é estar sempre ali pendurado na lavoura, finge não ser espantalho espantoso.

Mesmo assim, a sua função é espantar aves que querem bicar a plantação e nisso, quem sabe, se perca aterrorizando o que de dentro de si quer ser ave e voar... se deixar desmanchar pelo Tempo - em tempo irreal... saber-se adubo do chão, partícula solta no vento, onda...

A Era de ontem já era.
Sejamos Agora, bora!



sábado, 4 de maio de 2013

POEMINSK III


Eu não quero você pra mim,
nem quero ter o que é seu.
Eu só quero Ser um pouco Você
e que você seja um pouco Eu.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sou Fé; Soul Far






Aos meus amigos e amores:
Estou indo ali, regar a raíz!

Volto logo, sem demora
É só o tempo de inspirar
Transpirar, cuidar de si

Desaguar, aguar o árido
Amar, ser, doar, doer
Aprender, plantar, colher
do pálido a pétala em cor

Chegou a hora!
Voltar pro Norte.
 Mas, lá não tem rosinha-linda
Flor-do-sertão que me espere
ao pé da porta, em prosa íntima
em voz bem mansa ouvindo a sorte

 Lá sou só eu,
mesma sem mim
com meu Silêncio:
Tudo o que tenho.

Lá já não sei
quem são meus nomes.
Nem se minhas falhas dão em aplausos
como nos palcos por onde andei.

E eu bem sei, deixei minhas peles
Me arranquei, perdi cabelos
Me descasquei, criei meus calos,
Calores raros eu desfrutei.

É lá se vai o Tempo andando
como quem quer tudo o que pode.

Lá é o onde aonde o chão
delira em febre, em fé, em pó,
e a plantação dando o quinhão
pra lá do não, além da vagem

E quem me dera chovesse e a margem
do rio chorasse. Mas, pobre rio!
Nem mais rir ousa,
porém quem sabe,
navegue a voz da moça pro mar.

Sou fé.
Soul far.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Alegria das Priquitinhas


Hoje eu fui na casa de um casal de velhinhos. Bem velhinhos, daqueles que reconhecem a naturalidade da vida e, por isso mesmo, da morte. Daqueles que há muito já acordam vendo o dia como um milagre.
E os dois ficam se tratando.

Aí o véio diz:
- "Era pra ter nascido bem uns vinte, mas a véia se acabô cedo, espie pra ela aí alejada."

Enquanto ela se ria na cadeira de rodas, fazendo pouco caso dele, que estava operado da próstata.

Moram num lugar alto, onde a paisagem denuncia que o mundo é sim um ser de segredos. E existe,  mas ninguém vê, porque está longe dali...

A tarde estava cheia de passarinhos comemorando o templo que o Sertão é quando chove. Passarinhos verde-azuis.
Priquitinha de Velande... foi isso que consegui entender quando ele disse o nome.

As priquitinhas são lindas! Cantam que é uma beleza!
Saltitando com os olhos e ouvidos... foi assim que fiquei.
De mandacaru em mandacaru elas cantavam. A alegria estava ali ... fui tomada por aquela música e espetáculo aéreo. Fiquei em êxtase.

Aí a véia disse num dengo só:
- "Tem um bando delas, dão bem umas cem. Ficam pinotano prum lado e pro outro... Um deeeeengo só..."

E continuou:
- "Ais vêiz ficam tudo trepada no mandacaru, chega o mandacaru fica verdiiiinho.
   É a chuva... A chuva é uma alegria pra elas."

E pra terminar e tomando conta de toda a poesia que havia ali:
  - "Que alegria que é quando a chuva chove!"

terça-feira, 16 de abril de 2013



O Verão criou cais no Sertão.
Já não pensa em desatracar?

Hoje,  na aba do chapéu da Manhã que nascia - e que não nasce nunca mais porque nasce todo dia - boas águas vieram me encher o bom dia de cheiro.

Foi como receber uma carta de Amor.
Posso imaginar o dia em que Ela virá de corpo inteiro.


maré-mansidão



Eu adoro quando as minhas feras
selvagens escapam assim de mim:
mansas,

Amo tanto quando as minha pérolas
se descascam nas mantas da maresia:
crianças,

inteiras assim
profundas
sem preço
sem pressa
em ciclo de ondas
na rota do céu
sem hora
senhora de si
completas
repletas de agoras

de veras.




quinta-feira, 11 de abril de 2013

Dança da Chuva - Bailando de Buenos Aires até o Sertão

Ô, Chuva, deixe de tango!
Chegue prum dengo
um xote gostoso, um galope, um baião.

 Largue de enchentes, vexames, lamúrias.
Venha molhar esse chão que te implora.
Vem animar plantação que tem sede
do que em ti sobra em farra, alegria.

 Aqui o povo te agarra na rua,
louva seus pingos aos abraços largos.
Pois, se por lá uns te afogam os excessos,
aqui há quem morra porque és ausência.

 Vem ser presente,
engodar a palma.
Que o gado tá magro que chega dá dó.

Que dor
Que dá
E se cantá?
Há de chuvê?

 Oh, menina!
Vê se muda o endereço da visita.
Vê se transporta o sonho fresquinho
das águas bonitas.

 Venha sem quase.
Chegue pra ontem,
que já já o Sol te estanca esse pranto.

O sol,
 mesmo sol que aqui sangra no céu.
O céu,
mesmo céu de esperas sem choro
que aí se lamenta, inunda e se rasga.

 Que te custa trocar o bandoneom do Piazzola
pelo fole furado do Gonzaga?

 "E aí deu saudade!"


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

(In) Expressões

As Expressões são seres energéticos que, aos que estão expostos, provocam deslumbramento, magnetismo e até acessos de ilusão.
Chuva de faísca, em shows pirotécnicos, é a coisa mais linda e não se distancia muito do que são as Expressões. Primeiro explode, se expande no céu, contrai retinas... Depois, despenca e vai sumindo, pingo a pingo, até não sobrar mais nenhuma lágrima de fogo.
Uma vez acabado o show piro-aéreo, as bocas fecham, as retinas dilatam, a rotina se instala e começa o show da Verdade, tido por muitos como tedioso.
No fim, o que resta é o resto: as labaredas da memória, que vão se esvaindo até serem só brasa, até serem mais nada. E se vão assim: aos poucos, pingo a pingo, na chuva de verão que é a Vida - efêmera.
Tudo finda. Já não há  mais show; já não há mais fogo; nem céu, nem pingo, nem deslumbramento, nem ilusão, nem chuva...
Só o que há é a inexpressão; as (in)expressões.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SILÊNCIO DA SAÚDE


Sinto sua falta.
Venha um dia, subir na caixa d'água do meu prédio.
Venha ver o por-do-sol aqui na Saúde. Olhar a babilônia de um ponto alto.
De lá dá pra ver passarinhos.  Poucos, mas dá.

De um lado, a Baía de Todos os Santos, que acalma...
O Céu também chama a atenção. Não tão maiúsculo quanto o Céu Quando Se Tem Sete Anos de Idade, ou o céu em Caeté-Açu.
É um Céu que não é tão percebido nessa vida de concreto que se leva nesse admirável mundo velho baiano, com suas castas e seus macro-mégalo-enredos de sempre.

E o Pelourinho continua lindo.
E o Pelourinho continua sendo.

A cidade tem fervido e as ruas se enchem de personagens.
Existem ricas cenas aqui. É só prestar atenção nos detalhes.
Aí se você leva em conta o calor místico, mitológico e inspirador do olimpo atlântico... Ui ui ui !!!

É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que respirar não vem ao caso.
Cerveja, cerveja, cerveja... Tantos são os chamados. Tantos erês.

 Apesar de tudo, a Saúde ainda guarda uma molenguice.
A Saúde ainda ecoa o que lhe resta de Dorival, seu antigo morador, vizinho nosso.
E a minha diversão de verão noturno tem sido dar ouvidos ao Silêncio da Saúde.
Ele fala tanto... precisa ver. Ontem mesmo Ele fez uma barulheira.
Nem consegui dormir.


Aí dei pra lembrar de você,

deu saudade.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013