quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sou Fé; Soul Far






Aos meus amigos e amores:
Estou indo ali, regar a raíz!

Volto logo, sem demora
É só o tempo de inspirar
Transpirar, cuidar de si

Desaguar, aguar o árido
Amar, ser, doar, doer
Aprender, plantar, colher
do pálido a pétala em cor

Chegou a hora!
Voltar pro Norte.
 Mas, lá não tem rosinha-linda
Flor-do-sertão que me espere
ao pé da porta, em prosa íntima
em voz bem mansa ouvindo a sorte

 Lá sou só eu,
mesma sem mim
com meu Silêncio:
Tudo o que tenho.

Lá já não sei
quem são meus nomes.
Nem se minhas falhas dão em aplausos
como nos palcos por onde andei.

E eu bem sei, deixei minhas peles
Me arranquei, perdi cabelos
Me descasquei, criei meus calos,
Calores raros eu desfrutei.

É lá se vai o Tempo andando
como quem quer tudo o que pode.

Lá é o onde aonde o chão
delira em febre, em fé, em pó,
e a plantação dando o quinhão
pra lá do não, além da vagem

E quem me dera chovesse e a margem
do rio chorasse. Mas, pobre rio!
Nem mais rir ousa,
porém quem sabe,
navegue a voz da moça pro mar.

Sou fé.
Soul far.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Alegria das Priquitinhas


Hoje eu fui na casa de um casal de velhinhos. Bem velhinhos, daqueles que reconhecem a naturalidade da vida e, por isso mesmo, da morte. Daqueles que há muito já acordam vendo o dia como um milagre.
E os dois ficam se tratando.

Aí o véio diz:
- "Era pra ter nascido bem uns vinte, mas a véia se acabô cedo, espie pra ela aí alejada."

Enquanto ela se ria na cadeira de rodas, fazendo pouco caso dele, que estava operado da próstata.

Moram num lugar alto, onde a paisagem denuncia que o mundo é sim um ser de segredos. E existe,  mas ninguém vê, porque está longe dali...

A tarde estava cheia de passarinhos comemorando o templo que o Sertão é quando chove. Passarinhos verde-azuis.
Priquitinha de Velande... foi isso que consegui entender quando ele disse o nome.

As priquitinhas são lindas! Cantam que é uma beleza!
Saltitando com os olhos e ouvidos... foi assim que fiquei.
De mandacaru em mandacaru elas cantavam. A alegria estava ali ... fui tomada por aquela música e espetáculo aéreo. Fiquei em êxtase.

Aí a véia disse num dengo só:
- "Tem um bando delas, dão bem umas cem. Ficam pinotano prum lado e pro outro... Um deeeeengo só..."

E continuou:
- "Ais vêiz ficam tudo trepada no mandacaru, chega o mandacaru fica verdiiiinho.
   É a chuva... A chuva é uma alegria pra elas."

E pra terminar e tomando conta de toda a poesia que havia ali:
  - "Que alegria que é quando a chuva chove!"

terça-feira, 16 de abril de 2013



O Verão criou cais no Sertão.
Já não pensa em desatracar?

Hoje,  na aba do chapéu da Manhã que nascia - e que não nasce nunca mais porque nasce todo dia - boas águas vieram me encher o bom dia de cheiro.

Foi como receber uma carta de Amor.
Posso imaginar o dia em que Ela virá de corpo inteiro.


maré-mansidão



Eu adoro quando as minhas feras
selvagens escapam assim de mim:
mansas,

Amo tanto quando as minha pérolas
se descascam nas mantas da maresia:
crianças,

inteiras assim
profundas
sem preço
sem pressa
em ciclo de ondas
na rota do céu
sem hora
senhora de si
completas
repletas de agoras

de veras.




quinta-feira, 11 de abril de 2013

Dança da Chuva - Bailando de Buenos Aires até o Sertão

Ô, Chuva, deixe de tango!
Chegue prum dengo
um xote gostoso, um galope, um baião.

 Largue de enchentes, vexames, lamúrias.
Venha molhar esse chão que te implora.
Vem animar plantação que tem sede
do que em ti sobra em farra, alegria.

 Aqui o povo te agarra na rua,
louva seus pingos aos abraços largos.
Pois, se por lá uns te afogam os excessos,
aqui há quem morra porque és ausência.

 Vem ser presente,
engodar a palma.
Que o gado tá magro que chega dá dó.

Que dor
Que dá
E se cantá?
Há de chuvê?

 Oh, menina!
Vê se muda o endereço da visita.
Vê se transporta o sonho fresquinho
das águas bonitas.

 Venha sem quase.
Chegue pra ontem,
que já já o Sol te estanca esse pranto.

O sol,
 mesmo sol que aqui sangra no céu.
O céu,
mesmo céu de esperas sem choro
que aí se lamenta, inunda e se rasga.

 Que te custa trocar o bandoneom do Piazzola
pelo fole furado do Gonzaga?

 "E aí deu saudade!"