domingo, 29 de julho de 2012

HOMICÍDIO DE PALAVRAS



Ainda penso em romper de vez com as palavras. Montante de lixo.
Se, pelo menos, biodegradáveis fossem. Mas, não. Perduram, as teimosas... no vento, na língua dos outros, nos pensamentos, papéis velhos. Uma vez que nascem, ficam eternamente nascidas, ecoando, nem que seja para as pedras.

Às vezes, me pergunto se preciso mesmo disso.
Não posso sair de mim de uma outra forma que não seja essa letrada debilóide?
É a maneira que encontrei de me reciclar: gerando esse aterro... estercos, estercos, estercos...

E que ninguém ouse dizer que essas coisas são minhas. Elas não me pertencem.
Sou só eu dando descarga na minha cabeça, escapando de mim como posso, processando o mundo, o tempo, as vertigens...

Mas, ainda vou descobrir um modo menos barulhento de fazer isso.
Ah, vou!

- "Então, por que está escrevendo, idiota?"

sábado, 28 de julho de 2012

PALAVRAS DE UMA AGRICULTORA


Amor é coisa que se enterra?
Como não?
Tantos foram os amores que enterrei.  Enterrei; não soterrei.
Na medida em que pudessem beber da água com que eu molhava o chão e no ponto certo de se aquecerem quando o sol deitava ali.

Enterrar me soa tão cadavérico; tão fúnebre.
E eu gosto tanto de ser da Vida!
 Então, não. Melhor não. Não enterrei.
Semeei!!!
Semear... eis a que vem o Amor.

Hoje estou reflorestada. Tenho uma mata imensa feita de árvores que germinaram frondosas, cheirosas, que dão frutos lindos, diversos, multicores, multissabores, que me alimentam ou caem sobre mim para adubar meus chãos.

“A quoi ça sert l’amour...”

É nessas horas que eu sinto o Amor como sinônimo de Verdade; aquilo que prospera, que revigora, que renova, que expande...

O que devo fazer com o Amor e seu tamanho infinito? Administrar? Acho que não. O Amor não é empresa, lógica, meta ou cálculo. O Amor é planta; erva fina de poder. Basta deixá-lo Ser.

“Amor que é Amor, é assim: É uma certeza que nunca diz sim, nem diz não, nem diz. Só acompanha os movimentos com olhos atentos”. (Fábio Tagliaferri)

Amor que é Amor morre. Mas, morre na medida de nascer de novo. Pois, Amor que se preza, faz jus a sua identidade de ser vivo e deixa sementes, para mais uma vez brotar na Vida de quem o semeia.

Já espalhei as sementes. Rega quem quer. Dá sol quem tem luz dentro de si. Cuida quem tem paciência e força de espírito (daqueles que apreciam ver a Vida nascer).

As pragas de matar Amor já são muitas por aí pelo mundo.
 Por que eu deixaria meu Amor morrer?

Palavras de agricultor!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O SOL NASCE EM SOLEDAD




"Dijo que no le importaba la soledad"

E assim eu li no dicionário cibernético que o nome Soledade deriva de Soledad, nome de origem espanhola, que significa Solidão.

Solidão... são tantas as canções feitas para falar dela como uma coisa tenebrosa, um mal que pode ser conjugado no tempo, um bicho do qual todos têm medo e querem distância.

Engraçado. Eu, embaralhada que estava diante de tantas circunstâncias da vida, busquei estar só.
Penso: "Que outra maneira há melhor para se ouvir do que essa?"

Dói ?
Dói !

Mas, é tudo uma questão de se encarar, assim acredito. 
Encarar tudo o quanto se pode sentir de bom ou ruim e exercitar a aceitação de si próprio como um ser fraco; como um ser forte. Pois, uma vez que se é humano, somos sempre essas duas coisas.

Há quem diga que Solidão e Solitude são coisas diferentes e eu, em verdade, compartilho que isso seja fato, levando em conta o valor que as palavras possuem.
Sem muita leitura ou ciência dos significados de ambos os conceitos, tomei a liberdade de criar os meus próprios, simplesmente por tê-los sentido.

Solidão: O momento de estar sozinho, sentir-se sozinho. Momento em que o ser solitário se observa como uma criatura a ser suportada, e se entristece, ou se apavora por estar a sós consigo, refutando e complicando e tornando denso o ato de ser e estar.

Solitude: O momento de estar sozinho, sentir-se sozinho. Momento em que o ser solitário se observa como uma criatura a ser apreciada, e se enriquece, e se alegra por estar a sós consigo, celebrando a leveza e simplicidade de ser e estar.

A mim me parece que todo e qualquer ser humano está sujeito a experimentar esses dois estados de espírito. Em mim, eu sinto que cada um deles, em parte, é escolha.

Mas, quando a Solidão parece inevitável, tento ler da seguinte forma: Se eu estou sentindo isso é porque é necessário oscilar, por à prova meu bem estar para que eu questione se o que sinto pela Vida é mesmo Amor ou satisfação de caprichos. Pois é fácil dizer que se ama a Vida quando tudo está confortável, quando não falta pão, vinho, sexo, aplausos, intelecto, moda, personas etc etc etc.

Amar a Vida está além disso. Amar a Vida é aceitá-la como ela é; dançar conforme o ritmo do seu pulso. Quem consegue isso, nunca vai sucumbir ao sabor de estar só; nunca vai precisar achar que estar sozinho é insuportável; nunca vai encarar como uma catástrofe a ausência de terceiros.

Uma vez que se assume o pulso firme da Vida, podemos entrar em sincronia com ela, em diálogo com a Existência e o Universo poderá nos ouvir e nos falar, porque não estaremos resistindo a nada; não estaremos fazendo das tripas coração para nos mantermos no conforto ilusório da matéria; não estaremos obrigando o próximo a se vestir, e pintar, e fantasiar-se de causa da nossa felicidade.

Seremos mais. Seremos a própria pulsação, o intento, o efeito. Cultivaremos sementes de Amor no solo fértil do nosso próprio Ser. Regaremos com Sol, Luz, Água e Ar. Brotaremos. Seremos só expansão. E os pássaros, abelhas, beija-flores, borboletas - e tudo o que merecer nossa seiva - transportarão nosso pólen para germinar outros corações.

Amor próprio é isso. A força de se ver, refletir, amar, assumir, se entregar a si próprio enquanto pulsação de Vida. Amar a si é sentir a delícia de ser natural; de ser Natureza.

 A Solitude me leva ao meu Amor próprio, me transporta para a Luz, me faz encontrar meu Sol e, uma vez que eu me torno Sol, esse é o meu nome e eu posso ser capaz de ser Sol para todos os que me aceitarem como eu sou e compartilhar comigo desse Amor sem RG, sem CPF, sem títulos, méritos, leis, sem grades...

Eu quero que meu Amor seja.
 Amor-Luz
 Amor-Asas
 Amor-Vida
 Amor-Verde
 Amor-Verdade
 Amor-Colméia
 Amor-Encanto
 Amor-Conjunto
 Amor-Par
 Amor-Ímpar
 Amor-Multidão
Amor-Criança
Amor-Soledad
Amor-Sol


No latim o significado do nome Soledade é O VENTO DO LEVANTE...
O Sol... é dessa Soledade que vem o meu Sol.

Assim, eu posso dizer:  É na Soledade que eu encontro o meu Sol.
Esses são os meus nomes. E eu só posso ser Sol, quando me permito ser Soledade.


terça-feira, 24 de julho de 2012

GAMETA DE VÊNUS


A mulher e seus gametas
suas grutas
 suas furnas
sua sequência infindável de não's
e sim's

 A mulher e suas peles
seus teores
 desvios
 desvarios
 medos
seu queixo e audácia

 A mulher e suas falências
 seu útero
seu ventre
seus ventos
 seus tempos indicativos
 sujeito indeterminado

 A mulher e seu grito
seus grilos
seu gelo
seus calafrios
 lamúrias
peçonha
seu complexo de cegonha

 A mulher e os seus sonhos
seu conto de fada implodido
 sua reza
sua fé
sua santidade de puta
 suas caretas
carapaça e carapuça

 A mulher e seus delírios
 suas crias, seu uivo
 suas garras
seu orgasmo de fêmea
seu humor temperado de hormônios
seus tremores
terremotos internos

 A mulher e sua carência
 sua áspera espera
sua diáspora
seus poros
 seus portos
 seus podres
seus pares ímpares

 A mulher e sua sede de fluidos
de seiva
 sua fome de nada
 suas cólicas
suas falhas
 seus anseios de vômitos
seus traumas
suas nodas
seus vermes
seus retratos rasgados
 suas unhas roídas

 A mulher e o Amor
 sua sina
 lascívia
 infortúnio
 fortuna
seu parceiro noturno
 seu comparsa
 seu espelho
o seu mar
 infiel aliado
o seu laço
 o seu solo
 o seu sol
 o seu eu mais sagrado
 o seu ímã
 suas mãos
o seu sangue
 o véu incendiário

A mulher e a carne em seus dentes
sua paz e saúde
a visão da serpente

os seus glúteos lançados suavemente ao chão
pelo tempo que zomba
sua preocupação
com as rugas 
suas rogas e pragas
suas corrupções 


Bruxa, fada
a natura ensandecida

zumbi, nômade
ceifadora parida
bala na agulha
prenhe de mundos
pulso da vida
pele
ossos
postura
pus
pés
pás
pó.

sábado, 14 de julho de 2012

Não quero mão.
Não quero não.
Só quero chão.
Ficar são.

 Razão? Não! Reflexão.

 Em vão busco fórmulas. Há?!
 O que houver, há de ser. O que É, é e pronto.
Fico tonto. Trocho, bambo e morto.

 Sou quem dá o amor como caso perdido.
Na visão de quem perde tudo e tem dom de perder.
Porque perder é o melhor caminho para achar o Nada.
O precioso Nada, o abismo do infinito.

 Não quero romeus, nem julietas.
 Antes a cicuta desse amor dito divino,
do qual deus nenhum me ouve as preces.
 E não há sincretismo que resolva.

Nasci pra ser bicho, pra ser velha, pra ser bruta,
pra ser loba, pra ser fora de moda,
pra ser uma mulher velha do interior
que convive com as próprias frustrações
 sem saber lidar com elas.

Sou quem deixa o amor partir
 por falta de diplomacia nas relações humanas,
 ou por não ter talento para telenovelas.

 Sou candidata a ver discos voadores, mas nunca vejo.
 Aprendi as indelicadezas. Sou fria. Sou feia. Sou tosca.
 Sou vesga. Sou "um nada", como certa feita disse minha amada.