quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PÓS-VERBO PÓS CORPO PÓS-MUNDO

Ôh, mulher
olha eu me dizendo o tempo inteiro
as palavras já se foram, porque elas não dão jeito

É meu corpo, é meu sono, é meu cheiro
Isso é que vida,
é a vida que pulsa e expulsa
tudo que há em mim que não sou eu

Não é meu corpo que controla minha vida
Ela é que se mostra através de meu corpo
Usando esse mero instrumento
E suas ferramentas
minhas veias que sagram
O meu peito que enche
E a minha imaginação de criança

Oras, mulher
não é tão difícil assim
é um pouco mais que as verdades
elas a mim pouco importam
elas são só corpos estranhos
que entram em mim e me dão alergia
outras vezes alegria
mas, o que importa mesmo
é o espírito delas

O que mora em mim é que é muito
Meu corpo é um apenas um mundo
Mas antes eu sou o Universo
Pra lá de um corpo
Sou o espírito da verdade
Bigbangueando por dentro
Para simular o Universo
Do qual é matéria e faz parte

Olhos que esperam, me assustam
A indiferença, às vezes, consola
Porque ela não questiona, não fuça
Ao passo que a espera fala muito alto
E não escuta

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

NÃO DITOS

Foi quando essa noite
ela olhou outro sol que não era o meu
e da quietude formou-se um refúgio tranquilo.

Eu me parecia tão tola
Eu me entendia tão grande

E eu, que sonhei com navios
E eu, que fiquei com Pi Jêi
E eu, que não tinha palavras
E ousei me cantar em francês

Quem sabe falasse em sua língua
Quem dera banhasse minha tês
E ultrapassasse o delírio
Quem dera se fosse
quem dera outra vez

O que é que eu sinto? Não sei.

Com você eu senti e aprendi meus segredos
Com você respirei e alinhei o desejo
no compasso mais íntimo da inspiração
solfejei o silêncio e me imaginei nua
eu, o chão, e as árvores sem vergonhas

Com você eu olhei as estradas
Lembrei de quando era menina e não tinha medo de nada

me acriancei nas cordas do teu cabelo
cheirei seu abraço e me perfumei

PSIQUE - ESCONDE

Um pique-esconde de mim comigo mesma. Às vezes, apareço nua. Às vezes, não sei atrás de que parede de pensamento me escondi. Depois me revelo e me alcanço,passo através das grades, olho para todos os lados e só me vejo. Mas, isso não é egoísmo, porque eu não fico me procurando nas coisas ao meu redor. O redor é que me mostra a mim, me tira do centro e me expande em círculos, denuncia meu estado de coisa, minha fragilidade de bicho. Me encontrei. E só posso manter esse encontro se me perder de mim mais e mais.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

UMA SEGUNDA-FEIRA COSMOÉTICA

Dizem que crescer é colocar os pés no chão.
Grande merda!
Ser criança não é ser incapaz de entender o que se passa no mundo. E, a propósito, quer olho-de-olhar-mundo melhor do que esse?
Ser criança é permitir que seu corpo inteiro seja tocado pelo chão. Só os pés é pouco.

- E agora, Zé? Ainda dá pra ser uma?

- Dá sim. Claro que dá.Ontem mesmo fiz isso com dois amigos grandes, logo depois de comer um nhoque com molho de tomate feito de tomate. Ficamos dançando com o chão, esticando as costa nele, roçando a pele na pele dele e crescendo, crescendo, crescendo... só porque a evolução é um caminho sem volta.


Ah, minhas crianças, que bom que vocês me existem. Que bom que vocês são o meu chão e me põem toda em mim. Sim.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Nada contra o feijão com arroz
Mas, meu cuzcuz é colorido
Não acredito que possa existir fracasso
sem qualquer tipo de vitória escondida

domingo, 8 de janeiro de 2012

A MANIA ADULTA DE ADULTERAR-SE

Às vezes, tenho a sensação de que o passarinho passou tanto tempo enfeitando a gaiola, que desaprendeu a voar.

É o que eu digo:

"Peter Pan, meu filho, não se demore em seus passeios fora da Terra do Nunca. Pois, lá o tempo passa. Você corre risco de ficar grande. Aí já viu, voar que é bom..."

A MENTE DO HOMEM QUE MENTE

Cada cabeça contém dentro de si um pedaço de Universo.
Mas, somente uma pode conter o Universo inteiro.
Evidentemente, essa cabeça não é a cabeça de um ser humano.
Portanto, cuidado com a sua inteligência. Cuidado com as suas certezas.
O seu barco é só mais um a navegar nesse mar...
Qualquer um pode ser sabido e ter suas artes, suas manhas e estripulias.
Porém, não existe esse cabra que seja sujeito de toda sabedoria.

Jovem... a serpente se sente esperta demais quando pensa estar engolindo outra cobra mais fraca, enquanto engole o próprio rabo, a sua parte mais fina, a sua parte mais fraca, que ela não enxerga porque o olho é pouco.