domingo, 13 de novembro de 2011

Déjà Vu de Amanhã

Amanhã? Eu já não sei.
Já pensei, tentei
Mas hoje eu sei
que de amanhã eu não sei
da cor que o céu terá
ou se o sol virá dizer a mim
a quantas anda o Japão

Se o amor for penhorado
ou meu humor ficar nublado
Se aquela criatura vem me visitar
Será?

De amanhã eu já não sei...
Não sei para onde vão meus passos
Se eu me despeço e volto em casa depois

Pare de me olhar com cara de déjà vu, já vou.
Até mais tarde!
Se mais tarde houver, até...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O MASCOTE DA LAPA

Quinta-feira, Estação da Lapa, sete horas da manhã, andava por ali distraída em direção à rotina sempre torta. As pessoas com o passo devidamente simétrico em relação a sua vontade de ir para o trabalho e rimando sua respiração com a pressa. Quando dei por mim, estava diante de uma das cenas mais engraçadas que já vi na vida.

Na escada rolante, eis que surge O Mascote da Lapa. Assim como na Disney, O Mascote da Lapa também é um rato, só que cinza, pobre, faminto e fedorento. Achou de ir se divertir na escada rolante. Descia todos os degraus, no último descansava, até chegar novamente lá no topo da escada e depois correr de volta para, mais uma vez, assumir o seu sossego de degrau inferior. O rato ascendia sem querer, mas sempre voltava para o fim da escada, espantando todo e qualquer transeunte que ousasse enfrentar a sua presença. Os transeuntes, por sua vez, desafiavam a presença do rato só para não subir pela escada de concreto (que ficava logo ao lado) e para não fazer esforço nas pernas.

Doce engano. Os esforços para pular do rato, que descia saltitante e fazendo zigue-zague na escada rolante eram, talvez, bem maiores - e mais divertidos para a multidão que espiava de baixo e da qual eu fazia parte. As pessoas ensandeciam, desviavam, esbugalhavam os olhos, tremiam, se contraiam, pulavam de um pé só, seguravam umas nas outras, puxavam daqui, esticavam dali. Enquanto o rato vinha em sua direção, elas tentavam decidir sua postura conforme o passo indeciso da dança dele.

Coitadas! Entediantemente penteadas e limpas para o seu trabalho, toparam com o bicho sujo que veio quebrar o seu conforto-apático-de-escada-rolante com o movimento browniano digno dos roedores.

Tão logo o rato atingia o último degrau de baixo, as pessoas se livravam dele e lá em cima alcançavam o topo. Novamente ele começava a subir no giro da escada e uma nova leva de gente assumia seu posto inerte na escada, subindo logo atrás do roedor e crentes na ilusão de que ele não voltaria.

Passados alguns segundos, lá vem o rato! "Oh, abre alas que eu quero passar".
E é pulo, e é grito, e é salto, e empurra, e delira. Alguns, com medo irremediável da fera mamífera, voltavam escada abaixo na contra-mão das pessoas. Queriam ser rato também?

Não sei ao certo o que elas sentiam. Mas, mesmo com medo do primo pobre do Mikey Mouse, preferiam subir de escada rolante. Suponho que na tentativa de preservar sua preguiça ou então porque queriam se exercitar com o bailado do ratinho.

Seja lá o que tenha sido. Adorei ver essa cena e fiquei rindo o dia todo.
Queria dedicar o meu muito obrigada à prefeitura por esse investimento maravilhoso e de vanguarda. Uma gestão que se preocupa com o bem estar e que garante o divertimento das pessoas de manhã cedo, quando promove performances de ratos no chão.

Só não entendo porque investir também em pessoas deitadas no chão na companhia dos ratos. Ah! Mas, isso não importa. As pessoas não saltitam e nem dançam como ratos. Logo, não divertem ninguém. Então, quem se importa com elas?

DESSA VEZ EU NÃO FIZ SEU CAFÉ

O amor é agora
É a fonte que se consome
no ato, quando se bebe

O amor é hora
É sonho que se consuma
somente enquanto se tece

O amor é vapor
é um vulto que passa e se move
e comove quando bem entende

Dessa vez eu não fiz seu café...

Seu sono estava bonito
Ainda habitava o sonho
da dança da madrugada
E eu que cheguei do nada
apenas cobri sua pele
com o meu suspiro esticado
e um cobertor desbotado

Depois sai do seu sonho
sem pressa e sem barulho
achei a chave da porta
deixei outro beijo em seus olhos
e então, me embrulhei em suas costas
e disse um "bom dia" baixinho

Dessa vez eu não fiz seu café...

Te deixei namorando o seu sonho
fui no rumo do meu caminho
e parti com um riso na boca
achando o seu sonho bonito
só isso.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pra Ela

Quem é ela?
Quem sou eu sem ela?
Que sonho meu pode ser dela?

Qual a cor mais forte da tela
do desenho de sua alma
quando vista da janela?

Não sei que nome dar...

Quem inventou seu cheiro?
Quando é que acaba a saudade?
Onde será para sempre?

Serei eu a cicatriz
da vida que ela teve?
Serei eu a dor mais forte
que fez seu amor germinar?

Você é meu cais
minha estrada
a canção sem final
O ponto de chegada
Da minha falta de rumo

Você é sumo
da minha laranja
Eu sou seu erê
Você, minha santa

Te quero mais do que tudo
Em meu louco não-te-querer

Te quero pra muito
Te quero pra tanto
Te quero pra ontem
E depois de amanhã

Te amo
e para além do pecado
você é a minha maçã

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A BAGUNÇA QUE O AMOR ME FEZ

O meu Amor desorganizado
é doido, mas não é pouco.

Eu sei muito bem quem ele é...

Que o meu Amor é daqueles
que não dobra as roupas do armário.
Larga o copo na mesa da sala,
pisa o chão com os pés de areia
que chegaram salgados de praia.

Eu sei que ele deixa os pratos na pia,
que embola os lençóis da cama.
E como não embolar?
E se deita e se joga e não mede.

Eu sei, meu amor...

Meu Amor é daqueles que pede.
Que peca e sacode,
que dana e explode,
que entrega e lambuza
e se suja e não pensa.

Meu Amor é o mais limpo...

Meu Amor é o doce
que esqueci na despensa.
É o feijão temperado com alho e cebola.
Atenção que dedico a um conto. Um motivo.
A dedicação livre em prol de um sorriso.

O café derramado no fogão a lenha.
É um monte de livros não lidos na estante.
É a gaveta aberta, é o pé no sofá.
Os chapéus e sapatos fora do lugar.

É das folhas que eu planto...
O verde que não deixo de regar.

Meu Amor é a gafe.
Um acerto secreto.
É um bem do Universo.
Ele é fogo e fumaça.
Vai na força e na raça
e não rende e aprende,
aprofunda e me inunda.

E por tanto amar, se derrama,
se inflama, acredita e é ateu.
Meu Amor é a fonte de tudo.
Meu Amor é a carne dos sonhos.
É a vida e a morte...
e sou Eu.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AGENDA

Explodir em outros lugares
Reciclar vícios
Batizar cálices
Desfazer metas
Deixar falir sentimentos
Atear fogo no mapa
Perder os caminhos da volta
Alarmar uma pandemia
Divulgar a comédia dos astros
Por em prática todo desastre
Se exercitar num palhaço
Amar muito coisa nenhuma
Se expor diante da farsa
Ventar forte no meio do incêndio
Escarrar bem na cara da sorte
Sortear qual desejo que vem
E beijar todo beijo que voe
E fazer de mim uma morada
Transportar meus verbos pro nada
E depois outra vez
outra vez

domingo, 2 de outubro de 2011

1000 bytes/ hora

Era da informação, avalanches de notícias e descobertas por dia.
Eurekas e mais Eurekas e, cada vez mais, o homem sabe menos de si, cego por ter poder, por ter dinheiro, por tirar proveito de tudo a seu favor e somente a seu favor (Porque não existe mais ninguém no mundo, só ele):

- "Ah! Um dia eu morro mesmo. E daí pro que vai acontecer com o planeta?"


Em sua velocidade cotidiana a mil (bites) por hora, recebe primeiras, segundas, enésimas informações e engole todas elas sem nem mastigar. Resultado, má digestão; indigestão. Seu cérebro não se alimenta daquilo que ele mesmo produz, pois o homem já não produz; só usa cartilhas, bulas e manuais e segue as cartilhas, bulas e manuais. Anda envenenado, coitado, do estômago aos desejos. Tanto recebe e adora rótulos, embalagens e quantidades, que aprende muito de tudo, menos de si próprio.

Como eu posso querer ter netos?