quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O REFERIDO PROBLEMA




Nasci tão torta, sem jeito
Nociva às boas maneiras
Das rodas de amigos, distante
Dos bailes, um par destoante

O fogo já não me cabe
Mas, ei de perder o brilho?
Quem sabe, amigo?
Quem sabe...

Não há confusão, nem alarde
Eu não faço parte da festa
Eu nunca fui muito dos bailes
Jamais saberia agradar
Não tenho talento pra isso

A vida me fez assim, outra...
Sem classe e sem salto
Sem rouge e sem vez
Lasciva e divorciada
De tantos critérios e leis

Entrei pra viver de penetra
No tempo, penetro e me perco
Invado as noites, as hora
E me embriago de insônia

Eu sou a ‘sem cerimônia’
Eu sou o voto indeciso
Um bem... bem mal-entendido

Sou celebridade das ruas
Personalidade da plebe
Mas sei que quem sabe
E viu meu carinho
Não me atribui devidas funções

Apenas me chama
Convida sem verbo ou burocracias
Me deita nos braços
Me ajeita num cheiro
Sem formas, ofícios e telefonemas
Sem assinatura, carimbo, registros

Por todos os que chamaram em nome
Daquilo que guardam em seu coração
Os que me queriam vestida de dama
Levando um sorriso na cara
E uma lamparina nas mãos

Não há cerimônia ou palavra
Que valem acordos de uma comissão?
Vocês que me querem
Que querem, de fato
Eu sempre serei maior do que um símbolo
Me guardem no peito
Na vida, no tempo

Esfreguem a lamparina
Que eu saio de dentro.


Um cheiro no coração de quem já sentiu o meu coração !

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PRONÚNCIA DO "EU" - PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR

Quero dizer em primeira pessoa
O nome do verbo
O pretérito imperfeito
E sem despeito
À terceira pessoa
Lhe digo e advirto:
Não faça pronúncia
Na pessoa que não lhe cabe
Se ponha em seu lugar
Conjugue em seu nome

Eu saiu ?
Ele saí ?

Não é bem assim...

Anúncios de renúncias
Se fizeram em nome
De pronomes que não cabiam
Ao “Eu” tão quieto
e tranqüilo em seu canto

Se o canto não mais comove
O “ele” se lance no espaço
Conjugue o seu tempo
Sua gafe, sua mágoa
Seu tremor, suas dores
E o que mais lhe convir

O “eu” nada tem com isso
Se lança e se canta
E se envolve onde cabe
Se expande, se inflama
Se move, comove
E arde onde anda
Porque sem verdade
A vida não vinga
Não voa, não vale

E o “eu” não se vende
Não vende bandeiras
Nem vende sorrisos sem rimas
Só sabe de si, do presente
da força de ser e estar

Assim, o anúncio real do “eu” que vos fala é:
Eu sou
Eu estou
Eu nunca disse que ia
Não digo agora que vou
Eu não sai
Nem jamais sairia

O “ele” é a bola da vez
O “ele” é o dono da bola
E essa pronúncia é só dele
Portanto, “ele” use
E conjugue em seu tempo
Em sua hora
Assuma em sua pessoa
O seu verbo frouxo
O seu DESCONVITE

- Jamais eu falei que iria
Não ouse lançar pela sua pronúncia
Palavras e verbos que o “eu” nunca te disse.


Agora sim... tenho dito!


SOL

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

DREAMING

Meu sonho tem bola, tem circo, tem cores
Tem folhas que não existem na realidade
Tem grandes amores acontecendo
E tem meu amor se tornando verdade

Meu sonho tem dias melhores
Florestas e águas
Tem fogo e dragões
Tem lendas e grutas

Meu sonho tem portas, portais e montanhas
Que enormes flutuam
Por sobre lagos e mares

Meu sonho é alado
Não tem pés, nem gravidade
É uma aula sobre o mistério da verdade

É meu tempo sem tédio
É um filme de enredo sem fim
É minha vida em outros planetas
História contada por uma criança

Meu sonhou sou eu, vivendo a criança
Sem hora marcada pra ir à escola
Sem obrigações irremediáveis

Meu sonho tem torres, castelos e aeronaves
Irreconhecíveis seres que sonham comigo
Meu sonho tem músicas que nunca ouvi
Tem a canção que procuro há tempos

Nado e vôo tal qual peixe e pássaro
que só posso ser enquanto adormeço
e vivo profundo o meu corpo
e o que ele quer eu conheço

Meu sonho tem a criatura que eu amo
dividida em duas partes quase iguais
Para um poder ir embora
E o outro ficar comigo um pouco mais

O meu sonho tem disso
Tem efeitos de outros mundos
Tem cenários especiais
Tem a vida palpando o desejo
E fazendo com que ele aconteça

O meu sonho é o onde perfeito
É o quando que eu quero
O que na vida tem sido improvável
E espero que um dia ele acorde junto comigo
Quando eu acordar para o dia

Acordei...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

FÉ II

Para mim
tudo o que é natural
é divino

Por isso
que a Palavra de Deus
me vem através do silêncio
sem impressões
sem tinta ou rascunhos

sem desacordos
sem sacerdócio
sem ego
ou sem culpas

sem inquisição
desatino
honra
ou inquérito

Ouço no transe
das sem-palavras
dos sem-sentidos
no sentir
dos mais amplos

Ouço na Vida
cheirando meus sonhos
no grito do alívio
e do meu despertar

Ouço por dentro
e de dentro e profundo
ouço o divino
por não escutar

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ali, né?

Quando eu me vejo
eu te vejo ali
num abraço líquido
e nos sons que a vida faz

Quem sabe se um dia
eu te encontro por lá
nos sonhos de um mundo de fogo
à beira de qualquer lugar

Mesmo que o mapa astral
dê palpite em meu destino
para quem quiser saber
qual é meu rumo, o meu caminho

Eu só respondo:
deixa eu quieto quietinho
que eu to aqui
no meu cantinho

Eu quase calmo
eu sem consolo
eu quero é te encontrar fora daqui
eu quero é viver dentro de Ali

Porque Ali é o meu cantinho
é por Ali que eu canto um sonho
é logo Ali que eu vou morar
é para Ali todo o carinho

É bem Ali o meu cantinho
Ali no coração de Ali...
...Ali no coração de ...
...Ali no coração de ...
...Ali no coração de Ali...
No coração de...

Aqui tem um segredo
bem guardado para além.