domingo, 2 de outubro de 2011

1000 bytes/ hora

Era da informação, avalanches de notícias e descobertas por dia.
Eurekas e mais Eurekas e, cada vez mais, o homem sabe menos de si, cego por ter poder, por ter dinheiro, por tirar proveito de tudo a seu favor e somente a seu favor (Porque não existe mais ninguém no mundo, só ele):

- "Ah! Um dia eu morro mesmo. E daí pro que vai acontecer com o planeta?"


Em sua velocidade cotidiana a mil (bites) por hora, recebe primeiras, segundas, enésimas informações e engole todas elas sem nem mastigar. Resultado, má digestão; indigestão. Seu cérebro não se alimenta daquilo que ele mesmo produz, pois o homem já não produz; só usa cartilhas, bulas e manuais e segue as cartilhas, bulas e manuais. Anda envenenado, coitado, do estômago aos desejos. Tanto recebe e adora rótulos, embalagens e quantidades, que aprende muito de tudo, menos de si próprio.

Como eu posso querer ter netos?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A MENINA QUE TINHA MEDO DE ESCURO

Meu bem,
Eu sempre fui mais
do que podiam prever
os tantos delírios banais
que a gente nem sabe viver

A minha graça é afeto
Meu codinome é amor
Desculpe se não consegui
encontrar rimas ricas
dos meus pecadinhos ateus
para os seus

Por pura inocência
ou por precaução
você só me dava um sim de brinquedo
Eu ia na contramão

Me lembro de quando você preferia
o arroz soltinho que só eu fazia
das nossas tardes sem fim
dos domingos sem faustão

Quando eu era violão
você vinha de surdo
Se eu falava em sentimentos
só ficava mudo

E na doce malícia
do seu braile amador
tateava as palavras
desse meu coração
Você não adivinhou, não...

Meu amor é a metáfora
um escravo da liberdade
E pelas brechas que o seu olhar me deu
pude ver sem vaidades
os seus segredos sem asas

Mas, digo e é verdade
eu nunca quis te aborrecer
e nunca houve tanto perigo assim

Um lugar ao sol é de se conquistar
não é decreto
E você já é mais um carinho
que mora aqui
em casa.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011




Eu silencio o meu amor na canção, sonhando um dia que você escute a voz do meu silêncio.
No sabor mais doce dessa ilusão, quem sabe você não silencie comigo e se deixe cantar por mim.
Te canto... canto e você nem ouve. Creio e você nem vê.

Por que o chão tem que se perder dos meus pés?

Por que é que a centímetros, me sinto de outro planeta, te vejo a anos-luz?

O que mais eu poderia querer saber se é a dúvida que me conduz?

Eu não sei, eu não sei. Nem posso dizer que já fiz planos. Penso eu que só vivo no engano mais verdadeiro que já poderia. Como pode?

Por que os meus pés insistem no céu se há gravidade?

Por que o que eu sinto é tão grave?

O que é que me cabe?

Onde é que eu caibo?

Eu não vivo de 'ontens'. E nem saberia, sobretudo, quando ele nem me trás tanta alegria.
Não suponha delírios. Eu não sou tão normal a ponto de enlouquecer.
Mas, sou doida o bastante para poder perceber que em mim mora outra coisa, a qual não sei dar nome, não sei dar métodos, nem sei dar prêmios, nem dar objeto e nem insultar, e nem tanger fora, e nem nada...


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O REFERIDO PROBLEMA




Nasci tão torta, sem jeito
Nociva às boas maneiras
Das rodas de amigos, distante
Dos bailes, um par destoante

O fogo já não me cabe
Mas, ei de perder o brilho?
Quem sabe, amigo?
Quem sabe...

Não há confusão, nem alarde
Eu não faço parte da festa
Eu nunca fui muito dos bailes
Jamais saberia agradar
Não tenho talento pra isso

A vida me fez assim, outra...
Sem classe e sem salto
Sem rouge e sem vez
Lasciva e divorciada
De tantos critérios e leis

Entrei pra viver de penetra
No tempo, penetro e me perco
Invado as noites, as hora
E me embriago de insônia

Eu sou a ‘sem cerimônia’
Eu sou o voto indeciso
Um bem... bem mal-entendido

Sou celebridade das ruas
Personalidade da plebe
Mas sei que quem sabe
E viu meu carinho
Não me atribui devidas funções

Apenas me chama
Convida sem verbo ou burocracias
Me deita nos braços
Me ajeita num cheiro
Sem formas, ofícios e telefonemas
Sem assinatura, carimbo, registros

Por todos os que chamaram em nome
Daquilo que guardam em seu coração
Os que me queriam vestida de dama
Levando um sorriso na cara
E uma lamparina nas mãos

Não há cerimônia ou palavra
Que valem acordos de uma comissão?
Vocês que me querem
Que querem, de fato
Eu sempre serei maior do que um símbolo
Me guardem no peito
Na vida, no tempo

Esfreguem a lamparina
Que eu saio de dentro.


Um cheiro no coração de quem já sentiu o meu coração !

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PRONÚNCIA DO "EU" - PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR

Quero dizer em primeira pessoa
O nome do verbo
O pretérito imperfeito
E sem despeito
À terceira pessoa
Lhe digo e advirto:
Não faça pronúncia
Na pessoa que não lhe cabe
Se ponha em seu lugar
Conjugue em seu nome

Eu saiu ?
Ele saí ?

Não é bem assim...

Anúncios de renúncias
Se fizeram em nome
De pronomes que não cabiam
Ao “Eu” tão quieto
e tranqüilo em seu canto

Se o canto não mais comove
O “ele” se lance no espaço
Conjugue o seu tempo
Sua gafe, sua mágoa
Seu tremor, suas dores
E o que mais lhe convir

O “eu” nada tem com isso
Se lança e se canta
E se envolve onde cabe
Se expande, se inflama
Se move, comove
E arde onde anda
Porque sem verdade
A vida não vinga
Não voa, não vale

E o “eu” não se vende
Não vende bandeiras
Nem vende sorrisos sem rimas
Só sabe de si, do presente
da força de ser e estar

Assim, o anúncio real do “eu” que vos fala é:
Eu sou
Eu estou
Eu nunca disse que ia
Não digo agora que vou
Eu não sai
Nem jamais sairia

O “ele” é a bola da vez
O “ele” é o dono da bola
E essa pronúncia é só dele
Portanto, “ele” use
E conjugue em seu tempo
Em sua hora
Assuma em sua pessoa
O seu verbo frouxo
O seu DESCONVITE

- Jamais eu falei que iria
Não ouse lançar pela sua pronúncia
Palavras e verbos que o “eu” nunca te disse.


Agora sim... tenho dito!


SOL

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

DREAMING

Meu sonho tem bola, tem circo, tem cores
Tem folhas que não existem na realidade
Tem grandes amores acontecendo
E tem meu amor se tornando verdade

Meu sonho tem dias melhores
Florestas e águas
Tem fogo e dragões
Tem lendas e grutas

Meu sonho tem portas, portais e montanhas
Que enormes flutuam
Por sobre lagos e mares

Meu sonho é alado
Não tem pés, nem gravidade
É uma aula sobre o mistério da verdade

É meu tempo sem tédio
É um filme de enredo sem fim
É minha vida em outros planetas
História contada por uma criança

Meu sonhou sou eu, vivendo a criança
Sem hora marcada pra ir à escola
Sem obrigações irremediáveis

Meu sonho tem torres, castelos e aeronaves
Irreconhecíveis seres que sonham comigo
Meu sonho tem músicas que nunca ouvi
Tem a canção que procuro há tempos

Nado e vôo tal qual peixe e pássaro
que só posso ser enquanto adormeço
e vivo profundo o meu corpo
e o que ele quer eu conheço

Meu sonho tem a criatura que eu amo
dividida em duas partes quase iguais
Para um poder ir embora
E o outro ficar comigo um pouco mais

O meu sonho tem disso
Tem efeitos de outros mundos
Tem cenários especiais
Tem a vida palpando o desejo
E fazendo com que ele aconteça

O meu sonho é o onde perfeito
É o quando que eu quero
O que na vida tem sido improvável
E espero que um dia ele acorde junto comigo
Quando eu acordar para o dia

Acordei...